Esperança

No desespero da solidão
te encontro só
como a lua abandonada
numa noite de mil estrelas ocultas

No frio, que os ossos faz ranger
percebo a dor,
a dor daqueles que a vida se fez infeliz
e da rua fazem seu lar

Percorro ruas infinitas
de dor e solidão
onde se implora vivamente
a suplica dos mestres

Oh vento, tu que sopras!
Tu que resfrias e do frio tiras proveito
traz às ruas sem fim
A doce brisa, aquela que aquece almas condenadas

Suplico-te piedade;
imploro-te paz e respeito;
peço-te amor e carinho!
Por favor, ouve este pedido

Utopias pedidas
na tristeza são devoradas
aos poucos se fazem desesperar
e se perdem na desilusão

Na certeza da morte finita
controlo a doença de sonhar
que me alegra
e meu coração faz acreditar

Contudo, ainda vivo;
ainda suplico, imploro, peço e espero
de um dia, numa hora, tudo mudar.

Lamento



Não passa de mais uma daquelas noites, de pleno sofrimento! Na minha mente oiço todas aquelas vozes, que me destroem ... que me matam. Não oiço mais nada para além, daquelas frases frias, desumanas e duras. "Não prestas!", "És um falhado", "És uma humilhação", "És uma aberração", "És horrível" ...  é deste género de frases que proclamam, em forma de bala, contra mim! Porém, para além disso ainda vejo aqueles olhares de desprezo, que penetram na minha alma como lâminas finas, rasgando-a em pedaços! Sinto-me humilhado, um trapo... sinto-me como um papel amarrotado e sujo, que fora lançado ao lixo. Basicamente não passo de um triste e pobre falhado! Sinceramente não sei porque ainda vivo, não sei porque ainda respiro, não sei porque ainda insisto em ouvir estes comentários! Não tenho alma, não tenho auto-confiança, nem auto-estima, não controlo a minha mente... Pois ela não pára de implorar o último minuto, não quer mais nada que senão a morte! (suspirando) Ai, que aperto, de tão grande dimensão, no meu peito. É quase como se todos os meus orgãos estivessem a encolher, propositadamente, para me sufocar! NÃO AGUENTO MAIS ESTE SUFOCO! CHEGA! CHEGA DE VIVER! CHEGA DE DOR!
Tenho de por um fim, a este ciclo vicioso! O dia é hoje, a despedida é aqui! As vozes irão se calar dentro de momentos!
Bom, chegou a hora da despedida! Peço perdão, por ter nascido assim, por ter causado tanto distúrbio e transtorno! Peço perdão por tudo o que fiz de certo e de errado! Peço perdão, por ter existido nas vossas vidas! Peço perdão por tudo! Sejam verdadeiramente felizes, agora. Visto que deixaram de desperdiçar o vosso tempo, com uma reles pessoa, como eu. Até sempre! P.S.: Não façam o que me fizeram a mim, a mais ninguém, por favor!
Ai que dor tão pontiaguda no coração! Estou tão feliz, vejo a morte a aproximar-se, sinto o sossego a voltar, começo a descansar na paz, que outrora nunca tivera! Os comprimidos, que tomara antes de começar este texto, já começam a fazer efeito e a dominar o meu corpo, o batimento do meu coração, a minha respiração! Estes pequenos comprimidos deram-me a felicidade suprema, deram-me o fim que tanto desejava! Bem, está na altura da despedida, os comprimidos não devem demorar muito a acabar comigo!
Até sempre! Sejam felizes :)

Feridas por curar, são portas abertas para a morte!

Tempestade

Ai a saudade, está a matar-me! Este sufoco, vai me matar, vai acabar comigo até ao meu último segundo! Já não suporto mais estes nós nas minhas veias. Escrevo isto, ao mesmo tempo que contemplo a lua. Não sei explicar, mas aquele foco brilhante, no meio do pano de fundo escuro e negro, fascina-me! Porém fascina-me, pela negativa! Traz-me memórias intocáveis... Memórias essas, que me fazem proclamar à lua, palavras de dor, sofrimento e angústia. Não sei porque! Mas vivo com o coração apertado, desde aquele dia. Aquele dia, que me roubou o misero pedaço de alma, que me restava! Recordo-me perfeitamente de tudo!
Lembro-me que tínhamos ditado passar um serão romântico. Então havia velas, flores e bilhetes por todo o lado. O chão estava coberto de pequenas alcatifas felpudas, as quais eu pisava, e fazia-me sentir nas nuvens. Tu estavas bem ao meu lado, agarrado a mim. Apertavas a minha mão com uma força tão grande, como quem não me quisesse largar, por nada deste mundo! Senti-me a pessoa mais amada, e naquele conforto recordei todos os nossos pequenos e grandes momentos! Tu conduziste-me para a sala, e mais propriamente para o sofá! Deitaste a cabeça no meu peito e agarraste na minha mão. Passamos um bom bocado do tempo assim... no silêncio, naquela troca de olhares. Até que faltava cumprir parte do teu plano... ir para a rua! Então, fomos passear. A noite estava amena, a lua brilhava intensamente lá no alto, as ruas estavam quase vazias... era só nosso, aquele lugar! Havia um lago, perto de nossa casa e foi esse o nosso destino. O lago naquela noite estava perfeito. A lua refletida na água, o silêncio noturno, ouviam-se os sons do animais, que à noite despertam. E nós naquele lugar, sentimos o amor a florescer. Sendo assim, deitamo-nos no vasto manto verde, que cobria todo o parque. E novamente, tu deitaste a cabeça no meu peito, e agarraste na minha mão. Mas com mais força ainda. Por momentos, pensei que se estava a passar algo de controverso contigo, mas ignorei os pensamentos e liguei-me às emoções! Porém aquele gesto, aquele simples movimento, mudou toda a história, mudou toda a minha vida! O momento em que olhas para o relógio e me dizes "Falta apenas 1 minuto!"... Não percebi o porquê daquela frase, pois tu estavas sorridente, e aparentemente feliz. E desde que tu me disseste essa pequena frase, que tu não descolaste o teu brilhante olhar do relógio. Aí percebi que era tudo uma questão de tempo, mas não sabia para que finalidade... Até que olhei para o apontador de horas, e vi que faltava poucos segundos. Estava empolgado, mas ao mesmo tempo duvidoso. Foi nesse curto espaço de tempo que começou a chover torrencialmente, e tu me disseste: "Adeus". Não percebi, até ao momento em que morreste nos meus braços, em que deixei de te sentir, em que a tua respiração parou por completo... A tua mão escorregou pela minha, e assim te perdi em segundos, naquela chuva torrencial! Perdi aquele olhar, aquele toque, aquela voz suava ... perdi a tua alma! E ainda hoje sinto a tristeza profunda. Estou simplesmente aterrorizado e amaldiçoado... Está difícil viver sem ti! E as noites de sossego, são as noites de chuva... onde cada gota que cai na janela, me faz sentir mais perto de ti! Não sei até quando vivo, mas ainda te sinto!
 É tudo uma questão de tempo, até que a sentença de morte se cumpra!

Orgulho

 Acordei com o sol a radiar na minha face. Despertei com a luz amarela e brilhante, que aqueceu todo o meu corpo, que o contaminou de alegria pura! Por momentos, o meu cérebro esqueceu tudo e deixou maravilhar-se por aquela luz hipnotizante. E, naquele transe, me apaixonei pelo céu! Mas num ápice, aquele foco brilhante que me iluminava... abandonou-me! Perdi-o, no entreabrir dos olhos. Em segundos, dei por mim caído por terra, em lágrimas, em desespero e na angústia da solidão. Foi naquele abrir e fechar de olhos, como o bater das asas de um anjo, que revivi todas as minhas memórias passadas... desejei e obriguei-me a nunca mais me lembrar delas!
Porquê teve de ser assim tão cruel? Sofrer é diário. Porém em criança, custou-me tanto. Custou ser objeto, custou ter que aprender a controlar os meus sentimentos, custou esconder as mágoas e as minhas carências! Porquê a mim? Sentia-me e sinto-me deslocado, diferente, desigual, desrespeitado, inferior e desnecessário! Os meus colegas andavam sempre aprumados, bem arranjadinhos, alguns pareciam pinturas. Nos intervalos lá iam eles com a sua mala, para satisfazerem-se com o seu lanche. Notava-se a grande satisfação nos rostos deles. E eu?! Eu era a criança com o cabelo despenteado, trajes velhos e rotos, rosto pálido, olhos encovados e escuros, não tinha a minha malinha com o lanche. Cheguei, inclusive, em ir para a escola sem qualquer tipo de alimento no meu estômago, completamente em jejum. Injusto não é? Mas a vida não é feita de justiças e injustiças, a vida é um caminho pela qual nós fazemos opções, após a tomada de uma decisão temos que carregar as consequências! Sofri por consequência dos outros, mas vivi e vivo com isso!
  Mas porque tinha de ser objeto de represálias e de chacota? Já não bastava a repugnância que tinha para comigo? Porém, a verdade é que é muito mais fácil humilharmos quem é diferente, quem tem anomalias, quem não tem posses monetárias, do que criticar alguém do nosso estatuto! Mas isto é passado! Um passado vivido de carências, um passado relembrado por sentenças de causa presente.
 Orgulho?! Tenho muito orgulho... mas um orgulho podre! Além da miséria passada, o presente arrecadou semelhantes profecias, e fez de mim um Homem de rua. Aquele Homem à qual rejeitas ajudar, à qual me fazes ainda mais sórdido. Só porque a minha casa é um jardim obscuro, com uns bancos debilitados! Dava-me à magnificência de ter um pequeno lar acolhedor e quente. Mas a única fonte acolhedora e quente que possuo é aquela luz, que brilha nas raras manhãs de céu harmonioso! Nos restantes dias é andar escoltado pela brisa gélida que a corrente traz!
 O podre orgulho cai por terra e mata o Homem de repugnância!

Nada

Espreitei pela janela, e reparei no dia belo que está! O sol radia, os pássaros cantam, as folhas dançam na leve brisa quente. E eu ... aqui deitado como um defunto. Os meus olhos ardem, os meus ossos rangem, e o meu pensamento voa nas profundas e dolorosas feridas. Não sei o que se passa comigo! A minha mente está ... morta! Já não tenho a vivacidade, a esperança, a felicidade ... que tinha anteriormente. A cada dia que passa, é um pedaço de mim que desvanece. A cada tic-tac do relógio, é uma lágrima e um sufoco que em mim se executa. E até isto se está a tornar numa rotina!
 O meu coração manda-me desaparecer. Ele manda-me dormir, não umas horas... mas eternamente! Está a matar-me! Desde há alguns dias que sinto necessidade de ser esquecido, sinto a necessidade de morrer para as pessoas. Se pudesse apagava cada memória, que existe em cada pessoa mais próxima. Se pudesse destruía, tudo o que construi até agora. Se pudesse não teria nascido. Se simplesmente pudesse...
Ai! Quero ser esquecido, tal como são os defuntos. Quero tornar-me numa pessoa que não tenha memórias. Quero ser o nada. E assim e só assim é que terei a minha paz, mesmo que seja após a morte... mas é a paz que busco!

Carta

Estava um dia a passear pela praia, a praia era linda, muito limpa, areia muita clara, assim como, a água... Era uma praia extraordinária, e por estranho que pareça encontrei no chão, uma simples garrafa de vidro. Fiquei espantado com o que vi, pois era o primeiro vestígio de lixo que encontrara! Então decidi pegar nela e leva-la para um caixote do lixo mais próximo! Quando peguei nela reparei, que não estava vazia, que tinha um bilhete lá dentro. Abri a garrafa e lá tinha a seguinte mensagem:
"Psst ...
Neste momento estás a ler esta carta com mágoa, tristeza e dor. O destino estava marcado! Agora para vós tudo parece estranho e confuso, mas não vos pareceu estranho e muito menos confuso quando me puseram de parte, quando me excluiram, quando me disseram não nos momentos que mais precisava de vocês...
Porque pensas agora? Porque te sentes arrependido?
Porque foi necessário esperar que o fim mostrasse o teu arrependimento?
Porque queres voltar atrás no tempo? E voltar atrás para quê?
Para mostrares o que sentias?
Para não me deixares sofrer naquele canto escuro, frio, sem alma?
Porque choras? Faço-te falta, nunca o mostraste, porquê?

Era inútil, não tinha valor, não era humano, vendi a minha alma ao mais reles diabo e deixei, apenas, um corpo a divagar neste mar de pessoas cabinais, que só me faziam sofrer e que só o meu corpo queriam devorar ...
Vós, tu, que choras pelo meu corpo sem vida, sem funcionalidade... as lágrimas não me traram vida, não me traram conforto, alegria, amor ...
Não te sintas culpado deste acontecimento, porque agora concretizo as minhas palavras, agora serei o teu anjo da guarda, destruirei os teus medos, combaterei os teus inimigos, far-te-ei feliz. Sei que sou invisivel e por esse mesmo motivo irei acompanhar todos os teus passos, te irei levantar em todas as tuas quedas...
Sei que vou acabar por cair no esquecimento, na escuridão do teu pensamento, e que enterrarás este facto e viverás a tua vida normalmente como se isto não passe nada mais do que um suspiro de animo leve.
Acredita, agora sou feliz e livre
Desculpa mas foi a solução que encontrei de me libertar de todos os problemas...
Vive o que te resta.

Com muito amor e carinho, a tua lágrima..."
Fiquei com bastante medo, fiquei apavorado! Será que esta carta fora escrita e cumprida? Ou será que esta carta teria sido escrita apenas para encerrar um ciclo, sem por um fim na vida? Cartas ao vento, vivem eternamente

Ruídos

 Tão feliz que era! Vivia de sonhos futuros, encantava-me com a beleza do mundo, maravilhava-me com o ser humano. Era uma criança feliz, que contaminava as pessoas com alegria. Adorava o toque mágico que levava às pessoas. Era como se fosse um contágio! Ai, sentimento nostálgico estúpido! Só me trazes uma saudade infernal. A saudade de ser feliz, com algo simples!  Por vezes odeio ter crescido. Mas o certo é que somos "obrigados" a isso!  O mundo é tão diferente daquele que era em criança. O ser humano já não é aquilo que me maravilhava. Os meus sonhos de criança, foram-se!
 No mundo de hoje, à tanta rivalidade, tanto racismo, tanto preconceito, tantas leis! Que até as pessoas ditas felizes, não compreendem como isto é possível. Sendo nós uma só espécie, a espécie humana, como podemos estar tão divididos, como podemos estar tão catalogados! Atualmente, as pessoas matam indiretamente, as pessoas cometem homicídios diariamente. Não com armas, nem golpes! Mas com barreiras construídas, com frases explodidas de bocas sujas, e com gestos brutos que despertam e fazem com que desapareça um pedaço de uma pessoa. Aos poucos se rouba uma alma, até a conduzir à sua morte interior. Pois eles, aproveitam-se dos frágeis e abusam desse ponto fraco. Porquê tanto preconceito? Porquê tanto racismo? Porquê tanto individualismo? Porquê tantas leis impensadas? Porquê ?!
O mundo e as mentalidades devem evoluir, devem libertar-se de mistérios, abrir mãos a todos! Pois somos todos humanos, pois todos temos amor, carinho e conforto para dar. Deixem-se de restrições para integrar-se numa sociedade, deixem-se de criticar o próximo e de lhe apontar os defeitos... deixem-se! Não continuem a "roubar" as pessoas e deixem as pessoas viver a sua vida. Viver a sua vida, à sua maneira, com os seus hábitos, com o companheiro que amar, com o rumo que quiser! Não moldem ninguém ao vosso gosto, não tratem as pessoas, que são iguais a vocês, como um brinquedo, como um escravo vosso! Porém, se os ruídos mortais prevalecerem, mais almas silenciadas haverão! Amem-se e respeitem-se, somos todos humanos!